quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ser especialista... uma questão de pormenor

A Ordem dos Enfermeiros já há alguns anos que fez um acordo silencioso com inúmeras instituições de ensino público e privado para as especialidades na área da enfermagem. Um acordo transformado em spot publicitário no sentido de "Forma-te na especialidade que nós garantimos a tua certificação e reconhecimento profissional", uma grande mentira.

Vários enfermeiros iludidos com tamanha mentira e aliciados com a criação de uns míticos colégios de especialidade formaram-se como especialistas em diversas áreas, despenderam os seus recursos económicos, o seu tempo conjugado com o seu horário laboral e aperceberam-se (podiam ter lido atentamente o plano de estudos) que nada de novo foi acrescentado, nem mesmo um mero título.

Uns enfermeiros foram unicamente por uma questão de estatuto (podem agora ter funções de 2º elemento de um serviço dedicando-se a papéis, pedidos de farmácia e consumo de material), outros foram em tempos áureos motivados pela progressão na carreira (hoje congelada, talvez pelas condições climatéricas deste longo Inverno), outros foram aliciados pelas suas instituições e hoje são especialistas sem direito a reconhecimento legal e institucional.

A Ordem  mantém a sua campanha de marketing com a criação de colégios de especialidade com sites e artigos e papeladas que nada acrescentam à valorização da profissão, pois os enfermeiros mantém-se na prestação de cuidados e essa , meus amigos, não é de todo especializada, sem direito a nenhum aumento de qualidade aliado ao conhecimento teórico- prático.

Os enfermeiros esqueceram-se que ser especialistas é estar atento aos pormenores do dia a dia, lutar pela melhoria das condições de trabalho, da qualidade dos cuidados prestados e não ter um mero estatuto que em alguns casos até os privam da mudança para outra instituição de saúde por motivos de pagamentos de salários.

Pergunto eu, mero enfermeiro de nível 1, se não sou especialista pela forma como cuido dos meus utentes no dia a dia, especializando por conta própria a forma como cuido, a atenção que dou aos pormenores, às pequenas coisas do meu dia a dia laboral e ao mesmo tempo lutando por um reconhecimento do Ser Enfermeiro, sem títulos ou estatutos.

As escolas mantém os pedidos de enfermeiros, pois um dia quem sabe serão reconhecidos, pois também digo eu, um dia... quem sabe... Até lá andam os enfermeiros frustrados pelo dinheiro despendido, pelo tempo e esforço dedicados a um curso que pouco ou nada lhes deu e que foi motivo para a sua especialização pessoal e profissional. As escolas até os seus requisitos mudaram e qualquer enfermeiro, mesmo aqueles que mal começaram a trabalhar já se podem tornar especialistas, quando na verdade nem sequer no seu dia a dia o conseguem ser.

Pergunto eu então se não se é especialista nas pequenas coisas, na distinção do correcto e incorrecto, na luta diária nos nosso locais de trabalho pela melhoria da condições técnicas e ambientais com que trabalhamos, na tentativa da conquista da nossa valorização profissional Onde entram os especialistas nesta luta, a não ser na sua luta solitária de mais ordenado, mais estatuto? Onde estão eles nas lutas simples e vitais para a nossa prestação de cuidados e reconhecimento? 

Talvez estejam à espera dos colégios da Ordem que mantêm o lema de venham ser especialistas que um dia o serão, nem que seja num papel ou nos rendimentos adquiridos...

Sem curso nem graduação sou especialista na minha área de cuidados, pois sou em enfermeiro de pormenores e da busca da perfeição na forma como cuido!

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