sábado, 25 de fevereiro de 2012

A "traição" dos Enfermeiros

http://www.ordemenfermeiros.pt/tomadasposicao/Documents/FormacaoContextoPraticaClinicaAsseguradaPorEnfermeiros_VFinal_proteg.pdf

A Ordem dos enfermeiros toma a decisão de punir os enfermeiros que voluntariamente tomem parte de formações que usurpem competências de enfermagem, e de agir contra instituições que o promovam ou obriguem. Sem dúvida um passo de imensa importância, numa altura em que a arte de cuidar, a ciência da enfermagem, perigam, com usurpadores dos mais distintos quadrantes.
Esta punição, deveria no entanto, partir do âmago de cada enfermeiro. Formar outros profissionais em competências de enfermagem é um denegrir da ciência que defendemos, da arte que nos distingue, da singularidade da enfermagem na recuperação da pessoa, a todos os níveis. No entanto, parece residir em demasiadas mentes o complexo da inferioridade, e qualquer papel de relevo junto de outros profissionais parece brilhar com uma reluzência hipnotizante. Esquecemos a importância maior do nosso papel, que é junto aos que cuidamos.
A Ordem toma uma palavra corajosa, que esperamos não ser novamente um grito em surdina. Haja agora coragem para enfrentar o INEM, com quem num passado muito recente a Ordem pactuou, para punir os enfermeiros que contribuem para o esvaziamento de competências dos enfermeiros no pré-hospitalar, formando técnicos. Haja coragem para apontar o dedo aos enfermeiros que em anos anteriores formaram auxiliares de categorias diversas, que congeminaram para a criação de técnicos de administração de terapêutica, que fomentaram a vinda de profissionais estrangeiros sem cursos homologados.
Haja coragem de uma vez por todas para um dedo que se aponte aos enfermeiros que não amam a enfermagem, que a vendem a troca de tostões, que trocam a cumplicidade do cuidar, por breves segundos de ribalta.
A Ordem deveria igualmente espreitar a formação, pois até nela, em tantas vezes, nos revelamos pequenos. Não obstante a enfermagem ser uma ciência que sai enriquecida com contributos de áreas diversas, "fere a vista" de quem ama o cuidar ver que a maioria dos planos curriculares da maioria das pós-graduações existentes no "mercado" tem poucos enfermeiros envolvidos. Habitualmente tem 1 ou 2 enfermeiros das Universidades promotoras, e depois um sem número de prelectores que nada entendem do "cuidar da enfermagem". Há cursos de enfermagem que se iniciaram com um corpo docente tão pobre em enfermeiros, que duvidamos da sua idoneidade. Médicos, informáticos e afins não entendem a singularidade de ser enfermeiro.
Não esqueçam, já agora, os enfermeiros que fazem formação. Proliferam pelas escolas enfermeiros sem experiência profissional, enfermeiros que não entendem que se aprende reflectindo sobre a prática, pelo facto simples, de não saberem o que é prática. Aprendemos junto dos doentes, aprendemos depois indo para casa enriquecer-nos, mas nos livros, em meses escassos de profissão, vemos apenas a vontade de fugir à essência da enfermagem: cuidar.
A valorização tem de partir de cada um de nós, o complexo da "pequenez" tem de terminar. O valor da enfermagem é aquele que nós próprios lhe damos, o brilho com que anunciamos o nosso dia-a-dia, o orgulho que mostramos juntos dos utentes por cumprir o nosso trabalho. E se a queixa é constante, uma maioria significativa com razão, há que avançar para a atitude orgulhoso, de quem tem orgulho na sua ciência, na sua arte, na sua singularidade.
Há sempre mais para além da linha do horizonte, há um mundo a descobrir se tivermos a coragem de avançar. Avançar conquistando competências, sem descurar em momento algum aquilo que conquistamos. 
Haja então coragem, a enfermagem está em saldos nos salários, que não esteja igualmente em saldos nas suas competências. E onde houver alguém a desempenhar uma função de enfermagem há, com certeza, um enfermeiro por detrás, um enfermeiro que não interessa há enfermagem. E por detrás da maioria dos cursos na área da saúde, radiologia, análises clínicas, entre outros, há enfermeiros a leccionar....

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