Todas as religiões do mundo, vividas com maior ou menor fervor, alimentam-se de um deus invisível. Mas cada um destes deuses invisíveis tem necessidade, segundo todos os credos, de se tornar visível em algum momento de alguma forma.
Não só necessitam tornar-se visíveis, como se torna mandatório que deixem acções perpétuas, palpáveis, estraordinárias, para que todos encham de espanto os seus corações sépticos.
O que seria do catolicismo sem Jesus, sem os seus milagres para que se espalhasse a palavra? O que seria do islamismo sem o exemplo de Maomé e dos seus inúmeros feitos?
As ideias precisam de imagens, para que para elas se olhe com admiração, para que se reforce a crença na sua possibilidade.
Milagres escasseiam, mas cegamente acreditamos, inatamente acreditamos, porque em tempos alguém deles nos falou. Palavras sem cor, sem textura, são meros exercícios de reflexão. Palavras importantes são aqueles que conseguimos "apalpar", ou pelo menos ouvir de alguém que o tenha feito.
E a fé mantém-se com aparições, com materializações da fé, nas alturas mais obscuras da crença. Com visualizações que reforçam as palavras.
Para os enfermeiros existe a esperança numa Ordem e num SIndicato que os defenda. Esta milenar fé passa de geração em geração de enfermeiros, mas desvanece. A luz de outrora torna-se, hoje, num ténue crepúsculo. Faltam acima de tudo as aparições que convençam, que reacendam a luz. Falta por exemplo o Moisés que separe o mar da precariedade, falta a Nossa Senhora a iluminar quem vê as suas competências serem esvaziadas, deturpadas, falta o Maomé que comande os fiéis apaixonados do cuidar na luta pelo seu reconhecimento, falta o Cristo que dê vida a uma carreira de enfermagem morta, injustiçada.
E pior do que a ausência das aparições, são os falsos profetas que vão desfilando perante os nossos olhos.
Não há sindicalista que visite um contexto de trabalho numa altura de tensão ou litígio. Visitam-nos solicitando a nossa fé incontestada, pior, a nossa esmola.E a celeridade com que transformam o nada numa proposta de sindicalização é milagre único, pois as dúvidas raramente se convertem em esclarecimentos.
Estes falsos profetas afastam-nos da fé, pedem demasiado sem dar nada, não exibem milagre que não seja a evidência de se conseguir defender tão pouco os seus fiéis.
Não há bastonário que se revista de coragem ou compaixão para com os seus enfermeiros. As palavras de optimismo, de promessa de salvação esgotam-se a cada 4 anos após as eleições. As aparições, desconfia o fiél, não mais são do que a busca pela vela acesa no seu altar por mais 4 anos.
Os milagres, esses alguém um dia disse serem possíveis. E depois da transformação de uma arte em ciência, em licenciatura, os milgares esgotaram-se. Vivemos agora sem exemplos, pior, com maus exemplos. As velas de esperança que acendemos nos altares de esperança são sopradas, apagadas, por aqueles que deveriam ser a nossa fé.
As orações deixam de fazer sentido, olhar para cima deixa um vazio imenso, ao mesmo tempo que se instala a certeza de que só podemos olhar para o lado. Teremos de viver da fé em nós mesmos, nos enfermeiros ao nosso lado.
As aparições essas podem remeter-se aos seus covis paradisiacos. Deixem-nos lutar senhores sindicalistas, senhores membros da ordem, já que não o fazem por nós, já quem muito menos o fazem connosco.
Guardem as palavras de defesa dos enfermeiros, guardem as vossas propostas de fidelizações, guardem as promessas cínicas. Milagre é aquilo que com as condições actuais os enfermeiros fazem no seu dia a dia.
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