sábado, 24 de dezembro de 2011

A Ordem de alguns

Estamos zangados! Num País mergulhado numa crise cuja solução se assemelha, cada dia mais, a uma miragem, prestar cuidados de saúde torna-se cada vez mais difícil.
Estamos revoltados! Num País injusto o sistema de saúde depende, como nunca, do suor, boa vontade, capacidade imaginativa e de sacrífio daqueles que nele trabalham.
Estamos sozinhos! Num país em que os enfermeiros dão a cara pelos cuidados de saúde, vemo-nos sozinhos, desamparados; Molestados pelo interesse de quem pretende usurpar competências, desrespeitados por quem vê na saúde não um direito mas um negócio, não há uma defesa que se erga, uma mão que ampare, quando se tornam incontáveis os dedos que acusam.
As recentes eleições para a Ordem dos Enfermeiros trouxeram uma abstenção de 80%. Preocupante, pois é do senso comum o descontentamento com aquilo que são os 13 anos de existência de Ordem dos Enfermeiros. O espirito empreendedor e firme na luta pelos direitos do passado esgotou-se, e mais do que a demissão da responsabilidade na decisão, transpira um sentimento de que esta Ordem não serve para os Enfermeiros.
13 anos volvidos temos algo que não mudou: a Ordem continua a ser apenas de alguns enfermeiros, quando devia ser de todos. Estes 80% que se pouparam ao esforço do voto, seja da deslocação às mesas, seja à estação de correios mais próxima, não se poupa em cada turno, em cada dia, em cada momento, aos cuidados pelos utentes.
A questão é se esta abstenção resulta de comodismo, ou se resulta do sentimento que esta Ordem não é nossa, é deles. Talvez esqueçamos com demasiada frequência o nosso auto-cuidado, uma das palvras que esgotamos no dia-a-dia, sempre com renovado fulgor. Talvez esqueçamos os nossos direitos, que deveriamos defender com tanta paixão como defendemos os direitos daqueles que cuidamos.Talvez esqueçamos que a mudança tem sempre de ocorrer no presente e que o futuro será sempre tarde demais, seja para esta, seja para qualquer outra revolução.
A eleição seja de que caras forem torna-se indiferente. Afinal aqueles que perderam minutos de refeição, complicaram turnos já complicados, pela oportunidade de ouvir palavras de ordem, de mudança e de encorajamento, sabem que as vozes que os visitaram em campanha, os abandonarão a seguir ao redigir da cruz no boletim de voto. A voz dos 80% manifesta-se em ruidosa surdina.
Resultado de 13 anos de uma Ordem enclausurada num edifício, de uma Ordem que tem de estar junto daqueles que são a razão da sua existência: os enfermeiros.E esta presença é nos contextos, a cada dia, e não de 4 em 4 anos, porque a Ordem, tal como a enfermagem, é daqueles que a praticam, que a amam, que a vivem com dedicação.
20% falaram, a eles chgou a Ordem, a eles pelo menos chegou uma réstia de esperança de mudança. Mas as costas da Ordem voltam-se. Ao frenesim eleitoral segue-se o mergulho num silêncio absoluto. Vencedores remetem-se para os seus circulos, continuando a mostrar a Ordem só de alguns.
Mas os cuidados continuam. Enquanto se contavam votos, vidas se salvavam, vidas se perdiam, vidas começavam, vidas mudavam, tudo sempre na presença de enfermeiros. Enquanto se contavam votos enfermeiros eram despedidos, enfermeiros batalhavam pelas suas competências, enfermeiros davam a mão, enfermeiros suavam pelos seus doentes. E tudo o que lhes foi dado foi... Silêncio.Pior...discursos vagos, de bajulação. Precisamos de um abraço, sincero, envolvente, protector; as palavras, essas já perderam o momento para ser escutadas, o polimento que lhes dão já não reluz.
Estaremos mais perto dos 80% invejarem os 20% que votaram, ou o contrário?
A Ordem é de alguns, não serve para mim, para ti, para nós. Serve para eles...Agora.
Resta a coragem para um amanhã diferente, para que a Ordem se vá construindo em cada recanto onde haja um enfermeiro. Que cresça algo que nos tem faltado: um espirito de grupo inabalável, um orgulho interminável em ser enfermeiro e amanhã, aliás HOJE mesmo, que a Ordem mude, para já com a mentalidade de cada um de nós.
Alguns formatam a sua opinião pelos outros, relêem blogues de pseudo-referência. Esses...não são enfermeiros.
Os enfermeiros pensam com o coração, pensam com a cabeça, pensam em cada acto, em cada gesto, em cada palvra. Salvam vidas não por acaso, mas percebendo porquê, perdem vidas também percebendo a razão. Chama-se reflectir na prática, chama-se ser enfermeiro.
A pratica diz que chega da Ordem de alguns. É hora de agarrar a Ordem de todos. Antes que seja tarde demais.
Estamos zangados! Estamos magoados! E devemos está-los. Porque vamos à luta por tudo menos por nós próprios.

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